Potencialidades para
o turismo rural acessível: um LEVANTAMENTO na região de Planaltina - Distrito
Federal
POTENTIALITIES FOR RURAL ACCESSIBLE TOURISM: A SURVEY IN
THE REGION OF PLANALTINA - FEDERAL DISTRICT
POTENCIALIDADES
PARA EL TURISMO RURAL ACCESIBLE: UN LEVANTAMIENTO EN LA
REGIÓN DE PLANALTINA - DISTRITO FEDERAL
Donária Coelho Duarte[1]
Gleiton Alves de Oliveira[2]
Resumo: Este
trabalho tem como objetivo discutir o turismo rural na região de Planaltina DF,
tendo como foco de análise a acessibilidade nos principais locais voltados a
este segmento. Para tanto, optou-se primeiramente por uma pesquisa
bibliográfica a respeito das peculiaridades do turismo rural e o turismo
acessível. c semiestruturado. Ao
todo foram entrevistados 2 clubes, 2 hotéis, 2 pesque e pagues, 5 restaurantes
e 2 pousadas, totalizando 13 estabelecimentos rurais, que foram analisados na
sua totalidade de forma qualitativa. A pesquisa apontou que os estabelecimentos
investigados apresentam alguns itens voltados para a acessibilidade como
rampas, estacionamento, portas e corredores mais largos, sobremaneira voltados
para limitação motora e carecem de estrutura voltada para os outros tipos de
limitações. As entrevistas e observações feitas nesses estabelecimentos
revelaram os problemas, as dificuldades e os desafios que a região de
Planaltina DF enfrenta para o desenvolvimento de um turismo rural acessível. Dentre
esses, citam-se a falta de informação a respeito das adaptações necessárias, a
inexistência de orientação, além da falta de conscientização a respeito do
tema.
Palavras Chaves: Turismo rural; acessibilidade; hospitalidade; deficiência; Distrito Federal.
Abstract: This study has as objective to discuss
rural tourism in the region of Planaltina DF, focusing on accessibility in the
main sites focused on this segment. For this, it was made first a
bibliographical research about the peculiarities of rural tourism and
accessible tourism. In the data collection, a script of a semi structured
interview was used. In all, 2 clubs, 2 hotels, 2 fish and pay, 5 restaurants
and 2 inns were analyzed, totaling 13 rural establishments, which were analyzed
in their entirety qualitatively. The research pointed out that the
establishments investigated have some items aimed at accessibility such as
ramps, parking, doors and wider corridors, especially aimed at motor limitation
and lack structure aimed at other types of limitations. The interviews and
observations made at these establishments revealed the problems, difficulties
and challenges facing the Planaltina DF region for the development of rural
accessible tourism. These include a lack of information about necessary adaptations,
the lack of guidelines, and the lack of awareness about the issue.
Keywords: Rural tourism; accessibility;
hospitality; disability; Federal District.
Resumen: Este trabajo tiene
como objetivo discutir el turismo rural en la región de Planaltina DF, teniendo
como foco de análisis la accesibilidad en los principales locales de este
segmento. Para ello, se optó primero por una investigación bibliográfica acerca
de las peculiaridades del turismo rural y el turismo accesible. En la
recolección de datos se utilizó la forma de un guión de entrevista
semiestructurado. En total fueron entrevistados 2 clubes, 2 hoteles, 2 pesque y
pagues, 5 restaurantes y 2 posadas, totalizando 13 establecimientos rurales,
que fueron analizados en su totalidad de forma cualitativa. La investigación
apuntó que los establecimientos investigados presentan algunos ítems dirigidos
a la accesibilidad como rampas, estacionamiento, puertas y corredores más
anchos, sobre todo orientados hacia limitación motora y carecen de estructura
dirigida a los otros tipos de limitaciones. Las entrevistas y observaciones
realizadas en esos establecimientos revelaron los problemas, las dificultades y
los desafíos que la región de Planaltina DF enfrenta para el desarrollo de un
turismo rural accesible. Entre ellos, se citan la falta de información acerca
de las adaptaciones necesarias, la inexistencia de orientación, además de la
falta de concientización al respecto.
Palabras Claves: Turismo rural, accesibilidad, hospitalidad,
discapacidad, Distrito Federal.
O turismo rural é uma tendência
crescente no mercado atual tendo em vista os seus benefícios e peculiaridades.
O comportamento do consumidor desse segmento vem mudando e, com isso, surgem
novas motivações de viagens e expectativas que precisam ser atendidas. Em um
mundo globalizado, onde se diferenciar adquire importância a cada dia, os
turistas exigem, cada vez mais, roteiros turísticos que se adaptem às suas
necessidades, sua situação pessoal, seus desejos e preferências (MINISTÉRIO DO
TURISMO, 2010). Tal tendência está estritamente conectada as atrações
oferecidas por esta atividade. Há uma dependência entre o papel desempenhado
pelos atrativos turísticos rurais e a qualidade dos serviços prestados pelos
mesmos perante a sociedade.
Nesse contexto, para abordar a
questão da qualidade do atendimento nesses estabelecimentos rurais, é
importante destacar a questão da hospitalidade, uma vez que para o sucesso do
negócio pressupõe-se que haja a preocupação em atender bem e satisfatoriamente
o turista, estabelecendo uma relação harmônica de bem estar e satisfação entre
o acolhedor e o acolhido.
Sendo assim, destaca-se uma estrita
relação com a questão da acessibilidade nos atrativos rurais, no intuito de que
todos usufruam das atividades oferecidas, pois em casos de pessoas com
deficiências, as dificuldades são permanentes e, muitas vezes, intransponíveis,
afetando suas condições de independência e acesso à cidadania.
Levando em conta tais argumentos,
este artigo tem como objetivo discutir potencialidades para o turismo
rural na região de Planaltina DF, tendo como foco de análise a acessibilidade
para as pessoas com deficiência nos principais locais voltados a este segmento.
2.
A relação do turismo rural e a inserção no campo
O turismo
rural é uma modalidade em desenvolvimento nas regiões brasileiras, sendo,
portanto um segmento de extrema importância para o progresso das áreas rurais
devido ao seu impacto econômico. Em virtude desse avanço, procura-se entender
neste artigo como se dá esta relação do turismo e a área rural, enfatizando
ainda sua relação com as áreas urbanas e a acessibilidade.
Para entender a relação do turismo numa perspectiva rural é necessário
compreender o que é o turismo rural. Segundo o Ministério do Turismo (2010), a
expressão Turismo no Espaço Rural se refere a todos os movimentos turísticos
ocorridos no espaço rural, ao passo que o termo Turismo Rural se restringe às
características próprias do meio rural, à paisagem, ao estilo de vida e à
cultura rural, excluindo-se formas não ligadas à prática e ao conteúdo rural.
Sobre o
turismo rural, Azevedo e Rodrigues (2015, p. 06) destacam que deve-se
considerar portanto, “atividades que envolvam a agricultura familiar, o
artesanato, a pecuária, as diversas formas de “saber e fazer” do campo como
forma de valorização do homem e de conservação dos recursos naturais e
culturais do ambiente rural”.
Lunardi,
Souza e Perurena (2015, p. 06), afirmam que num primeiro momento, o turismo
rural era uma atividade produtiva complementar da receita para as famílias,
logo, em muitas propriedades, tornou-se a principal fonte geradora de receita e
também de mudanças sociais e culturais.
Também
destacam Lunardi, Souza e Perurena (2015), que em muitas propriedades o
trabalho no turismo rural provém basicamente do grupo doméstico, entendido como
um sistema econômico e social baseado no convívio comum, na mesma residência.
Os autores salientam ainda que turismo é uma atividade que exige dos
proprietários dedicação diária, especialmente nos períodos de alta temporada.
Entende-se
que esta relação que se dá entre o campo e o turismo é resultado de um sistema complexo
que não se restringe apenas ao ganho financeiro obtido pelo espaço turístico.
As variáveis e peculiaridades que permeiam esse vínculo devem ser analisadas e
estudadas, visto que o fator sociocultural, a atração turística e o ambiente
são aspectos determinantes para o desenvolvimento da atividade.
Um aspecto
importante nesse contexto refere-se a hospitalidade, na medida em que qualquer
estabelecimento turístico, inclusive aqueles voltados ao turismo rural, devem
estar preocupados em bem atender e superar as expectativas do cliente. Este
assunto será discutido a seguir.
3.
A
hospitalidade no turismo rural
Beni e Moesch (2015)
afirmam que o turismo está ligado às culturas, ao ato de receber, sendo assim,
está ligado à hospitalidade e sua tradição. Convencionalmente, o hóspede é um
viajante que recebe hospitalidade no lar do anfitrião.
A hospitalidade se fundamenta na interação entre pessoas, instituindo uma dinâmica de reciprocidade. Beneficia a construção e o revigoramento da sociabilidade por meio da criação, do fortalecimento e do estabelecimento das relações e vínculos sociais (Boer; Rejowski, 2016). Os autores consideram que, dessa maneira, qualquer pessoa que não está em seu domicílio, pode ser considerada “hóspede” nos lugares onde frequenta e consome serviços.
Neste sentido, a hospitalidade tem como seu ponto fundamental a interação entre as pessoas, na qual se institui uma dinâmica de reciprocidade. Pode ser considerada como um dos alicerces da constituição dos vínculos sociais, uma vez que abre espaços para uma ação interativa entre indivíduos - hóspede e anfitrião - e, dessa forma, proporciona momentos de construção de relações sociais (Boer; Rejowski, 2016).
Complementando, Stefanini, Alves e
Marques (2018) consideram que a hospitalidade é oriunda das relações humanas e
interpessoais que ocorrem nos ambientes sociais públicos ou privados. Envolve
uma troca entre alguém que recebe (anfitrião) e em contrapartida está o
recebido (cliente, hóspede), onde aquele que recebe troca algo com o que é
recebido, podendo ser bens tangíveis ou intangíveis. Os autores consideram que
os serviços relacionados com hospitalidade deveriam, idealmente, refletir o
prazer de conhecer novos clientes e cumprimentar antigos que estão de volta.
Assim, a hospitalidade, a qualidade
no serviço e a experiência no momento do consumo do produto estão intimamente
ligados a satisfação e sua consequência fidelização (Stefanini; Alves; Marques, 2018). Para os autores, as
características hospitaleiras proporcionam diferencial competitivo, portanto o
estudo e identificação de tais características contribuem para o
desenvolvimento de estratégias visando o atendimento e superação das
expectativas dos clientes.
Corroborando,
Fernandes, Santos e Rejowski (2017) consideram que receber está intrinsicamente
ligado à hospitalidade. A recepção de pessoas parece estar na essência da
sociabilidade entre os seres humanos, e quando se trata de turismo, recepcionar
é indispensável. Compreende-se que o ato de receber em qualquer um dos eixos da
hospitalidade (cultural ou social) engloba hospedar, alimentar e entreter.
Entende-se que a interação entre hóspede e anfitrião pode acontecer em todos os
domínios da hospitalidade, sendo que no domínio comercial, a hospitalidade tem
uma relação baseada em troca monetária e busca fidelizar seus clientes.
Nota-se nas abordagens citadas anteriormente que o foco da hospitalidade
é a fidelização de clientes e a preocupação em manter os já conquistados, na
medida em que conquistar novos clientes pode requer mais esforços do
estabelecimento do que manter os clientes já existentes. Ambos, tanto novos
quanto clientes já conquistados devem ser o foco da hospitalidade nos serviços
turísticos.
Relacionando competitividade com hospitalidade, Wada e Goldenberg (2017) consideram que, independentemente da atividade, a prestação de serviços é um processo em que há interação entre o provedor e o consumidor e é nessa interação que a hospitalidade pode estar presente, aumentando a percepção de qualidade do serviço prestado pelo consumidor. Empresas que prestam serviços para competir no mercado, por se tratar de um setor que representa mais da metade da atividade econômica global, podem ganhar competitividade considerando as relações presentes tanto na provisão de serviços em si, bem como nas relações existentes com as várias partes interessadas no processo de prestação de serviços.
A hospitalidade pode ser um
diferencial no turismo, na medida em que deve priorizar o atendimento com
excelência e enfatizar o bem estar de todos.
Entende-se hospitalidade aqui, como sendo “uma área do conhecimento que
possibilita seu entendimento em diversas dimensões, mas no geral, está
vinculada às relações estabelecidas entre os indivíduos, a título de exemplo,
entre o hóspede e o anfitrião” (ROCHA; PETRY, 2015, p. 20).
Desta forma, entende-se que a hospitalidade revela-se como um sentimento que se estabelece através da relação, permite elevar o seu conceito a um estágio de satisfação intrínseca a cada ser humano, o que está relacionado diretamente a sua essência, atos que expirem prazer e contentamento ao hóspede.
A hospitalidade na oferta turística remete os
destinos e atrações turísticas como lugares de hospitalidade, que promovem a
comunicação, o contato e a proximidade com o outro, ou entre hóspede e
anfitrião. Os lugares são retratados como hospitaleiros ao turista com
acolhimento e cortesia a este, nos quais há ou haverá troca de experiências e
pontos de vista, contato com outros turistas e com residentes, em uma viagem a
lugares passíveis de serem imaginados e experimentados (Fernandes; Santos; Rejowski,
2017).
Santos (2017) que destaca o aspecto intangível e as
relações mútuas interpessoais, revela que se compreendermos a “hospitalidade” como gestos de gentileza – que tendem a
ser recíprocos – pouco a pouco forma-se uma espécie de corrente do bem.
Entretanto se olharmos a “hospitalidade”, como forma de ganho econômico, como
uma ferramenta de trabalho, capaz de potencializar as vendas por meio do bom
atendimento e da transparência nas relações comerciais, teremos então um
mercado mais justo.
Apoiado nessa concepção de
intangibilidade, conforme destaca o autor, afirmar a importância da
hospitalidade é o mesmo que corroborar a indispensabilidade da acessibilidade
nos estabelecimentos, uma vez que se ser hospitaleiro é atender bem,
consequentemente aquele que deseja ser hospitaleiro, deve permitir que todos tenham
acesso a todo espaço do seu estabelecimento.
Nesse contexto, destaca-se ainda que
a preocupação em atender as questões da acessibilidade é primordial, entretanto
deve-se ter o cuidado em perceber que “o ato da hospitalidade implica não
somente a abertura de espaços e confortos físicos, de desempenhos intelectuais
e comportamentais, mas também, e em grande medida, implica a abertura de
espaços emocionais e intuitivos voltados a um ser desconhecido” (LOPES;
BARBOSA; SONDA, 2015, p. 37).
Portanto, a preocupação em
proporcionar o bem estar e promover um ambiente agradável às pessoas, é de
extrema relevância no turismo rural. Essa aproximação com a natureza requer
muito mais que apenas a contemplação natural do ambiente, mas a interação entre
os diversos atores inseridos nessa modalidade turística, de forma a estabelecer
uma aproximação maviosa e hospitaleira.
4.
A
acessibilidade: um enfoque sobre o turismo acessível
Tendo em vista a importância da
hospitalidade no turismo rural, torna-se imprescindível destacar a
acessibilidade nesse contexto, uma vez que não há como abordar a hospitalidade
sem mencionar a acessibilidade, pois aquela visa o bem receber, a relação entre
o anfitrião e o visitante que deve prevalecer em qualquer ambiente, inclusive
nos estabelecimentos rurais. A hospitalidade busca fidelizar esse turista com
limitações e, portanto, visa atrair turistas para o turismo rural.
Segundo a Secretaria Nacional de
Promoção dos Direitos das Pessoas com Deficiência (SNPD, 2015), acessibilidade
é definida como:
Acessibilidade é um atributo
essencial do ambiente que garante a melhoria da qualidade de vida das pessoas.
Deve estar presente nos espaços, no meio físico, no transporte, na informação e
comunicação, inclusive nos sistemas e tecnologias da informação e comunicação,
bem como em outros serviços e instalações abertos ao público ou de uso público,
tanto na cidade como no campo (SNPD, 2015).
A questão da acessibilidade é
complexa e como tal deve ser estudada, a fim de se estabelecer o maior leque de
informação a respeito das dificuldades que quando não atendidas, inviabilizam o
atendimento e o acolhimento do público. Ainda no intuito de definir a questão
da acessibilidade, a lei nº 13.146,
de 6 de julho de 2015 que institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência) define a acessibilidade em
seu artigo 3o inciso I
como sendo a:
[...]
possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia,
de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes,
informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de
outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de
uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou
com mobilidade reduzida (BRASIL, 2015, p. 01).
Observa-se que a lei traz a proposta de
acessibilidade tanto em ambiente urbano como rural,
uma observação que já era destacada em legislações anteriores, e que continua a
ser enfatizada, o que afirma a ideia básica, de que as pessoas que possuam
limitação devem poder usufruir de todo tipo de ambiente, inclusive os rurais.
Ainda nesse
contexto há de se abordar o turismo acessível, como forma de permitir que todos
tenham amplo acesso ao turismo, eliminando barreiras que venham a impedir sua
apreciação.
Segundo Peixoto e Neuman (2009 p. 147), turismo acessível é “fazer
viagens e destinos, produtos de informação turística apropriados para todos
aqueles que têm necessidades especiais ao nível da acessibilidade, os seus
familiares e amigos sem nenhum sector ou grupo seja descriminado devendo
constituir uma realidade acessível em alojamento, transporte […]”.
Já para Duarte et al (2015, p. 539), “o turismo acessível, mais especificamente,
surge como potencial motivador da inclusão social, visando à ampliação da
participação de todos em tal atividade, com a finalidade de proporcionar às
pessoas a oportunidade de acesso a atividades comuns e não em grupos isolados e
estigmatizados”.
Em suma, é imprescindível que haja esta conscientização, para que os
estabelecimentos turísticos busquem sanar as necessidades de adaptação dos seus
espaços, uma vez que essa conscientização permite destinar o olhar de maneira
ampla e inclusiva. No tocante ao turismo rural, também é importante que haja
esse olhar acessível, para que a pessoa com deficiência possa apreciar esse
serviço, usufruindo do lazer, da comodidade e das atividades que são
oferecidas, para que não haja entraves quanto ao uso dos espaços rurais,
possibilitando o contato rural de forma totalitária.
Desta forma, destaca-se ainda um outro aspecto que influencia no
atendimento ao turista pois está diretamente enleado a estrutura básica a ser
utilizada: o design universal ou desenho universal que engloba o
processo em que soluções de acessibilidade que teriam um apelo para aceitação
mercadológica e uma absorção na vida cotidiana de um grande público. Devemos
lembrar ainda que design tem vínculo com o termo português “desígnio”, isto é,
decisão a ser adotada numa sequência de tantas escolhas possíveis e compatíveis
com o contexto em que o produto do design se destina (CORREA, 2009, p.89).
O design universal ou desenho
universal, segundo as autoras Dorneles,
Afonso e Ely (2013 p. 56), “combina as necessidades de todas as pessoas,
para criar espaços inclusivos. Pois as necessidades relativas ao uso dos
espaços variam conforme as características físicas dos usuários e de suas
habilidades”.
Ainda
nessa linha de raciocínio, Duarte e Borda (2013, p. 367) afirmam “que o turismo
inclusivo não abrange apenas os deficientes físicos, mas também as pessoas
denominadas com mobilidade reduzida, incluindo também aquelas que possuem algum
tipo de limitação que, porventura, possa ser momentânea”.
Portanto,
pensar em um turismo acessível é debater as diversas variáveis que influenciam
o turismo no tocante à acessibilidade, é compreender desde a construção dos
espaços e atividades adequados às necessidades dos usuários, buscar formas e
mecanismos que sejam inclusivos e capazes de atender e atrair a população como
um todo. Trata-se, portanto, em definir a relação das áreas rurais e o que
estas podem oferecer aos turistas de forma acessível, salientando sempre a
questão da hospitalidade.
5.
Metodologia
Tendo em vista
o objetivo deste artigo, inicialmente foi realizada como técnica de pesquisa a
bibliográfica. Segundo Gil (1991), a principal vantagem da pesquisa
bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma
gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar
diretamente.
Assim,
foram feitas pesquisas sobre os assuntos relacionados ao tema proposto em
livros, artigos, dissertações e demais publicações a respeito do tema estudado,
que deram fundamento necessário ao estudo. Além disso, este trabalho teve
respaldo na pesquisa documental por meio do levantamento de conceitos voltados
a acessibilidade, a partir da legislação governamental.
Quanto a
seleção dos estabelecimentos investigados, o critério se deu por uma amostragem
não probabilística, por acessibilidade na medida em que os estabelecimentos
pesquisados foram aqueles aos quais o pesquisador teve acesso e autorização
para a realização do estudo.
Na coleta
de dados usou-se a forma de um roteiro de entrevista, onde o objetivo foi
verificar até que ponto os estabelecimentos se encontravam ou não devidamente
adaptados para receber as pessoas com deficiência e se em tais estabelecimentos
havia alguma preocupação em relação a hospitalidade nesse quesito.
Para a
realização da entrevista, optou-se pelo emprego de um roteiro de entrevista
semiestruturado, elaborado pelos pesquisadores especificamente para este
estudo. Ao todo, foram investigados 13 estabelecimentos que, apesar de serem
analisados de forma global, foram distribuídos nos segmentos apresentados no
Quadro 01:
Quadro 01. Quantidade e
discriminação dos estabelecimentos investigados
Segmento |
Quantidade |
Restaurantes |
05 |
Pousadas |
02 |
Pesque e Pague |
02 |
Clubes |
02 |
Hotéis |
02 |
Total |
13 |
O roteiro
de entrevista em questão, direcionado ao proprietário ou gerente do
estabelecimento, foi dividido nos seguintes blocos: caracterização do
respondente; caracterização do estabelecimento; adaptação do estabelecimento;
divulgação da adaptação do estabelecimento; e pessoas com deficiência como
segmento de mercado/clientes em potencial.
Tendo em vista a forma de
abordagem desse levantamento, entende-se que este estudo teve caráter qualitativo.
De acordo com Minayo (2004), a pesquisa qualitativa é importante por
compreender os valores, a cultura e as representações dos grupos sociais
envolvidos sobre o tema pesquisado, abrangendo as relações desenvolvidas entre
os grupos sociais, tanto no âmbito das instituições, como no dos movimentos
sociais. Tal metodologia se justifica, tendo em vista a natureza do estudo que
visa analisar de forma exploratória o potencial para um turismo rural na região
de Planaltina - DF analisando, além de dados físicos, as percepções dos
entrevistados em relação ao tema proposto.
6.
Análise
dos dados
Tendo em
vista a discussão anteriormente levantada em relação ao turismo rural,
abordaremos a seguir as informações coletadas nos estabelecimentos do turismo
rural na região de Planaltina - DF, enfatizando os aspectos concernentes a acessibilidade
dos mesmos.
6.1.
Um olhar
histórico e estrutural sobre o Planaltina DF
Para entender um pouco mais a
acessibilidade no turismo rural em Planaltina DF, elevando suas potencialidades
para turismo rural, é necessário compreender o histórico de Planaltina DF e
região, objeto do estudo deste trabalho.
Segundo Paulino
et al. (2012 p. 24):
Planaltina
é uma Região Administrativa do Distrito Federal e se situa a aproximadamente 40
quilômetros do Congresso Nacional. Cerca de 200 mil pessoas habitam em sua
área rural e em seus 13 setores, tais como Setor Tradicional, Setor de
Integração, Vila Vicentina, Bairro Buritis (I, II, III e IV) e Vila Nossa
Senhora de Fátima. O Centro Histórico de Planaltina está situado no Setor
Tradicional, o mais antigo. Comparado com o planejamento urbanístico feito para
abrigar os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, o Centro Histórico de
Planaltina exibe registro de características históricas do século XIX, com
casas coloniais e a Igreja de São Sebastião.
(PAULINO, et al. 2012 p. 24)
O fato de Planaltina possuir
diversos eventos e celebrações anualmente, pode atrair turistas de outras
cidades e regiões, de forma que exige do turismo rural a adequação e a promoção
de ambientes acessíveis e hospitaleiros, incentivando a construção de atrativos
previamente projetados nos moldes do desenho universal.
Destaca-se ainda que a cultura
bicentenária de Planaltina DF é visível nos casarios antigos do Setor
Tradicional e na Pedra Fundamental, cuja história desperta interesse em
turistas do mundo todo. Há outras atrações como a Estação de Águas Emendadas
assim chamada porque lá há o encontro de nascentes que dão origem às Bacias
Amazônica, Platina e Sanfranciscana (MENDES, 2009).
A estação de Águas Emendadas é:
Uma unidade de conservação de
proteção integral destinada à proteção do ambiente natural, realização de
pesquisas básica e aplicada em ecologia e à educação conservacionista. Pelo seu
excelente estado de conservação dos ecossistemas foi declarada em 1992 pela
Unesco como uma das áreas que compõem a área nuclear da Reserva da Biosfera do
Cerrado (fase I). Não é permitida visitação pública, apenas a permanência de
pesquisadores e atividades de cunho educacional. (MOSCOSO, 2016)
Já a pedra Fundamental possui uma
história que, segundo Gomes (2009), teve início em 1920 quando o então
presidente Epitácio Pessoa assina o decreto que prevê o início da construção da
Nova capital do Brasil. No ano posterior, em 1921 os deputados Rodrigues
Machado e Americano do Brasil, apresentam juntos o projeto 680 de 1921 que
manda ser colocada no Planalto Central, como parte das comemorações do
centenário da independência do Brasil, a pedra fundamental. Em 7 de setembro de
1922 foi lançada a pedra fundamental em Planaltina-DF.
Percebe-se, portanto, o
potencial turístico de Planaltina e, neste sentido, o estudo nos
estabelecimentos rurais da região como restaurante, pesque-pague, hotéis,
clubes e pousadas, se mostra importante na medida em que entende-se que devam
estar preparados para prestar um serviço adequado as necessidades de seus
diversos públicos, dentre esses as pessoas com deficiência, objeto desse
trabalho.
6.2 Caracterização
dos estabelecimentos investigados
Inicialmente buscou-se definir o
perfil de cada entrevistado, que de 13 estabelecimentos, 07 foram do sexo
masculino e os outros 06 foram femininos, sendo que todos possuíam de 29 a 43
anos e ocupam cargos de gerência ou são donos do estabelecimento há no máximo
10 anos, tendo apenas 03 deles com experiência no ramo, o que pode influenciar
na administração e atendimento nesse segmento.
Dos 13 estabelecimentos rurais
encontrados em Planaltina DF, pesquisou-se 2 hotéis rurais, que oferecem lazer,
alimentação e hospedagens, 2 clubes,
que também oferecem alimentação e lazer, 2 pesque e pagues que oferecem o lazer
e alimentação, enfatizando a pesca e o consumo de peixes no local, 5
restaurantes e 2 pousadas que oferecem oficinas e lanches para os turistas.
Numa perspectiva mais ampla, com
foco e uma abordagem mais direcionada ao perfil de cada estabelecimento,
procurou-se destacar a localização de cada estabelecimento, constatando que dos
13, apenas um é próximo ao centro urbano de Planaltina DF.
Constatou-se que o tempo de
existência do estabelecimento varia de 1 a 20 anos, alguns declararam que
anteriormente o local prestava outros serviços, mas não souberam destacar com
certeza que atividade era desenvolvida.
6.3
Adaptação dos estabelecimentos
Observou-se que dos 13 estabelecimentos, 10 declararam que o seu local está adaptado para receber pessoas com deficiência. Um dos hotéis pesquisados declarou que “é muito importante adaptar as suas instalações, pois permite o acesso a todo o tipo de público, além de colaborar para o bom atendimento”. Na mesma linha, um dos donos de um restaurante destacou ainda que, “o fato de permitir o acesso de maneira generalizada, aumenta a demanda e consequentemente o lucro”.
Tais depoimentos espelham que os entrevistados demonstram a importância de ter as instalações adaptadas para receber pessoas com deficiência, pois as mesmas também repercutem na qualidade do serviço prestado, no bem atender e na boa relação entre o anfitrião e cliente, o que é essencial na relação que visa a hospitalidade.
Tendo em vista esse entendimento a
respeito de como a acessibilidade pode influenciar na oferta dos serviços, e
como ela impacta no turismo rural, buscou-se saber dos 10 estabelecimentos que
se declararam adaptados, se já havia preocupação em adaptar o estabelecimento
desde a sua inauguração, de maneira que fosse possível oferecer todos os
serviços de uma forma inclusiva.
Diante disso, 7 dos 10
estabelecimentos declararam já haver essa preocupação, em promover um espaço e
serviços que fossem inclusivos. O responsável por uma das pousadas pontuou que
adaptar o estabelecimento, “poderia ajudar no acolhimento dos turistas, além de
aumentar a demanda”. Este relato vai ao encontro ao do que está descrito na
literatura e demonstra ser característica inerente ao desenho universal,
segundo ressaltam Heylighen e Bianchin (2010), ao declarar a importância de se
ter em mente o desenho universal desde o início do projeto, para que sua
efetividade seja alcançada expondo essa preocupação com inclusão e
acessibilidade, permitindo que todos possam ter acesso ao ambiente natural,
rústico e próprio do turismo rural.
Dos 3 estabelecimentos que
declararam não serem adaptados, todos relataram não terem tido essa necessidade
até o momento, pois alegaram não ter uma demanda que justifique essas
adaptações. Apenas um pesque pague disse ter um projeto para adaptar o banheiro
do estabelecimento, no prazo de até 2 anos.
Portanto, de maneira geral esses
estabelecimentos disseram ser adaptados para receber as pessoas com
deficiência, entretanto no Quadro 2 apresenta que nem todos os quesitos
necessários para a limitação motora foram contemplados nos locais investigados.
Quadro 2: Resultados da pesquisa quanto a limitação
motora
LIMITAÇÃO DO TIPO |
ITEM |
ESTABELECIMENTOS QUE POSSUEM
ADAPTAÇÃO |
MOTORA |
Estacionamento
com vagas reservadas para deficientes |
6
estabelecimentos |
Estacionamento
com vagas reservadas para idosos |
6
estabelecimentos |
|
Rampa(s)
para ingresso no estabelecimento/recepção |
11
estabelecimentos |
|
Barras
de apoio em rampas |
2
estabelecimentos |
|
Barras
de apoio em escadas |
2
estabelecimentos |
|
Portas
mais largas |
10
estabelecimentos |
|
Corredores
mais largos |
10
estabelecimentos |
|
Elevador(es) |
Nenhum
estabelecimento |
|
Recepção/balcão
e caixa mais baixos |
8
estabelecimentos |
|
Telefones
na altura adequada para cadeirantes |
8
estabelecimentos |
|
Móveis
em altura adequada para deficientes com limitação motora |
9
estabelecimentos |
|
Possui
circulação adequada a todos os ambientes do local (sem restrição) para
pessoas com limitação motora |
7
estabelecimentos |
|
Banheiro(s)
público(s) adaptados |
Nenhum
estabelecimento |
|
Área
para manobra da cadeira de rodas |
10
estabelecimentos |
|
Profissional
do estabelecimento devidamente treinado para acompanhar essa pessoa com
limitação motora |
Nenhum
estabelecimento |
|
Outros.
Quais? ___________________ |
|
Fonte: Dados primários
Conforme
está evidenciado no quadro anterior, constatou-se que apenas 6 estabelecimentos
possuíam vagas reservadas, tanto para idoso quanto para deficientes. O
proprietário de um pesque pague relatou que “não possuímos vagas reservadas,
mas caso surja algum deficiente ou idoso, ou alguém que necessite de vaga no
estacionamento, nós encontramos uma vaga na hora”. Entende-se que essa medida pode não
ser tão eficiente, pois em casos de dias lotados, pode não haver vaga para este
público.
Entende-se que este depoimento demonstra a falta de preocupação com as
vagas de estacionamento para deficientes e idosos e revela o descaso para com
esse segmento. Assim, corroborando com Stefanni, Alves e Marques (2018), a
experiência no momento do consumo do serviço (no qual o item estacionamento é a
experiência inicial na prestação do serviço) pode se revelar como algo
frustrante, prejudicando a satisfação do cliente e de sua família e consequente
fidelização.
Quanto as
rampas de acesso ao estabelecimento, apenas 2 estabelecimentos não possuem.
Dentre esses, a Figura 1 registra a entrada de um pesque pague próximo ao
município de Formosa-GO localizado na região de Planaltina-DF:
Figura 1: Entrada de Pesque pague
Fonte: Dados
primários
A Figura 2
foi registrada em um hotel próximo ao município de Planaltina-GO localizado na
região de Planaltina-DF, na qual está evidente a inexistência de rampas e a
dificuldade que um deficiente possuidor de limitação motora enfrenta para obter
o acesso a área de lazer, ao sair dos quartos.
Figura 2: Área de lazer
Fonte: Dados
primários
Analisando as fotos anteriormente apresentadas, constata-se que o fato
de ser um ambiente considerado mais rústico, afinal estamos trabalhando com
turismo rural, não significa que deva existir a falta de adaptação dos
equipamentos para bem receber todos os públicos e, dentre esses, as pessoas com
deficiência. Isso corrobora com o pensamento de Fernandes, Santos e Rejowski
(2017) que consideram que o bem receber no turismo é indispensável,
independente de qual modalidade/tipo de turismo seja ofertado.
No tocante a adaptação necessária para um cliente com
limitação visual, o quadro 3 apresenta os dados
encontrados nos estabelecimentos pesquisados.
Quadro 3: Resultados da pesquisa quanto
a limitação visual
LIMITAÇÃO DO TIPO |
ITEM |
ESTABELECIMENTOS QUE POSSUEM
ADAPTAÇÃO |
VISUAL |
Cardápio
em Braile |
Nenhum
estabelecimento |
Cardápio
com letras de fácil visualização (tamanho de letra adequado) |
Nenhum
estabelecimento |
|
Piso
tátil |
Nenhum
estabelecimento |
|
Profissional
do estabelecimento devidamente treinado para acompanhar essa pessoa com
limitação visual |
Nenhum
estabelecimento |
|
Possui
circulação adequada a todos os ambientes do local (sem restrição) para
pessoas com limitação visual |
Nenhum
estabelecimento |
|
Permissão
para entradas de animais (no caso, cão guia) |
13
estabelecimentos |
|
Corrimão
nas escadas/rampas |
2
estabelecimentos |
|
Folders
sobre a promoção/divulgação do estabelecimento em braile |
Nenhum
estabelecimento |
|
Outros.
Quais? ______________ |
|
|
Profissional
do estabelecimento com conhecimento em línguas de sinais |
Nenhum
estabelecimento |
Fonte: Dados
primários
Quanto aos
possuidores de limitação visual constatou-se, a impossibilidade por grande
parte dos estabelecimentos em recepcionar esses clientes, visto que apenas 2
características foram atendidas por alguns dos estabelecimentos: a permissão
para entrada de animais e a existência de corrimão nas escadas e rampas.
Pode-se observar a Figura 3 que demonstra essa realidade no pesque pague.
Nota-se que a pessoa com deficiência motora e visual possuirá dificuldade para
subir até a área de descanso, visto que a rampa é íngreme e não possui nenhum
tipo de corrimão.
Figura 9: Rampa de acesso à área de
descanso
Fonte: Dados primários
Também
considerou-se a limitação do tipo auditiva, para que fosse averiguado em cada
estabelecimento características que atendessem a esse tipo de limitação,
conforme apresentado no Quadro 4.
Quadro 4: Resultados da pesquisa quanto
a limitação auditiva
LIMITAÇÃO DO TIPO |
ITEM |
ESTABELECIMENTOS QUE POSSUEM
ADAPTAÇÃO |
AUDITIVA |
Possui
circulação adequada a todos os ambientes do local (sem restrição) para
pessoas com limitação auditiva |
7
estabelecimentos |
Outros.
Quais? |
|
Fonte: Dados primários
Constatou-se
que em 7 estabelecimentos, possuíam a circulação adequada para todos os
ambientes do local, tendo em vista que nos mesmos haviam sinalizações e avisos
que orientavam o deficiente auditivo. É necessário destacar que essas
propriedades não são muito grandes, o que facilita o acesso em todos os
ambientes, de forma que o deficiente auditivo não teria nenhum problema em
usufruir dos espaços oferecidos.
Por fim, buscou-se através da
análise física de cada estabelecimento mostrar especificamente as
características dos banheiros, conforme evidenciado no Quadro 5.
Quadro 5: Estrutura dos banheiros
investigados
LIMITAÇÃO DO TIPO |
ITEM |
ESTABELECIMENTOS QUE POSSUEM
ADAPTAÇÃO |
ESPECIFICAMENTE NO BANHEIRO |
Campainha
em caso de emergência |
3
estabelecimentos |
Barras
de apoio ao redor do vaso sanitário |
Nenhum
estabelecimento |
|
Indicação
em braile |
Nenhum
estabelecimento |
|
Piso
antiderrapante |
Nenhum
estabelecimento |
|
Tamanho
adequado para circulação de cadeirantes |
3
estabelecimentos |
|
Pia
e espelho em alturas acessíveis |
9
estabelecimentos |
|
Outros.
Quais? ________________ |
|
|
Sinalização
visual |
4
estabelecimentos |
Fonte: Dados primários
Tendo em vista a importância da
acessibilidade nos banheiros, buscou-se investigar se os mesmos estão adaptados
para receber as pessoas com deficiência. A pesquisa aponta que nenhum
estabelecimento possui barras de apoio ao redor do vaso sanitário. Neste
sentido, a Figura 10 apresenta um banheiro sem o espaço necessário para a
cadeira de rodas, porta estreita e sem barras de apoio.
Figura 10: Banheiro não adaptado
Fonte: Dados primários
Por outro lado, a Figura 11
demonstra banheiro com pia em altura acessível.
Figura 15: Banheiro com pia acessível
Fonte: Dados primários
Conforme fica evidente nas análises anteriores, as adaptações variam para cada estabelecimento, dos 13 estabelecimentos, observou-se que apenas 3 possuíam maior número de adaptações e, mesmo assim, adaptações estritamente básicas, como rampas, barras de apoio em rampas e espaços amplos, o que comprova que há uma grande discrepância entre a fala dos entrevistados e a realidade do estabelecimento. Constatou-se através das observações que não existem adaptações específicas, uma vez que os banheiros não são adaptados, não há sinalização tátil, apenas 2 dos 13 estabelecimentos possuem corrimão nas escadas ou rampas, além de não haver um profissional no estabelecimento devidamente treinado para acompanhar pessoas com limitações.
Analisando os dados coletados, constata-se
a total falta de estratégicas que visem atender de forma plena as necessidades
desse público. A ausência de visualização deste como um segmento de mercado
prejudica a atuação do estabelecimento de forma competitiva, na medida em que,
conforme abordado por Stefanni, Alves e Marques (2018), as características
hospitaleiras proporcionam ao empreendimento focado no seu público um
diferencial competitivo.
Portanto, observou-se
que não há características significativas que comprovem a acessibilidade nesses estabelecimentos, visto que faltam adaptações
básicas que proporcionem o mínimo de conforto às pessoas deficientes. Isso gera
barreira para que se concretize o turismo rural acessível na região de
Planaltina - DF, ao não prover um ambiente apropriado para todos, sem constituir uma realidade acessível como em
casos de alojamento, transporte ou outros fatores, conforme destacam Peixoto e
Newman (2009).
6.4
Demanda das pessoas deficientes nos
estabelecimentos investigados
Diante da importância da
acessibilidade, buscou-se saber se existia uma procura dessas pessoas, suas
famílias ou amigos aos estabelecimentos investigados. A pesquisa demonstra que
4 restaurantes disseram ser bastante procurados por parte desse público, alguns
justificaram essa procura pelo fato de ser um ambiente familiar, de haver um
bom atendimento e pela alimentação típica do ambiente rural. Já 5 disseram que
não há procura por esse público, o que pode ser justificado pela falta de
divulgação, mas segundo o dono de um pesque pague: “acho que quem usa esses
espaços rurais, são pessoas que possuem uma disposição e uma boa saúde física
para enfrentar os relevos naturais”. Do restante de 4 estabelecimentos, o
responsável por uma das pousadas disse que “a procura é pouca, porque muitos
não se interessam por ambientes rústicos e oficinas vivenciais”, já que em sua
pousada são oferecidas oficinas e serviços voltados para o cuidado ambiental.
Quando interrogados sobre a relação
entre as instalações adaptadas e a procura pelas pessoas com deficiência ao
estabelecimento, observou-se que 12 estabelecimentos concordam que se as
modificações fossem realizadas para tornar o local acessível, isso poderia
aumentar a demanda por esse público.
Do ponto de vista da hospitalidade, tida como o bom atendimento conforme enfatizam Lopes, Barbosa e Sonda (2015) ao abordar esse princípio como sendo o ato de receber com cordialidade, acolher, dar conforto e oferecer o bem estar, indagou-se aos entrevistados como as adaptações voltadas para a acessibilidade poderiam influenciar na questão da hospitalidade. Todos pontuaram que a hospitalidade é muito importante, as justificativas foram das mais variadas, a saber: “pois todos usam o espaço, e isso faz com que todos se sintam bem”; outra resposta foi “não há desconforto”; ou ainda “não exclui e ignora as pessoas com deficiência”. O proprietário de um dos clubes enfatizou que “atender a esse público não só agrada a pessoa que possui limitação, mas a família deles, que sentem-se bem ao perceber que eles estão confortáveis”.
Constata-se que tais relatos corroboram com o pensamento de Wada e Goldenberg (2017) que consideram que a hospitalidade aumenta a percepção de qualidade do serviço prestado pelo consumidor e pode ganhar competitividade.
Quanto a preocupação em permitir que todos (pessoas com
ou sem deficiência) usufruam de todos os serviços
prestados pelo estabelecimento, apenas 2 disseram não se preocupar com essa
questão, por não acharem necessário. O entrevistado de um hotel relatou que “já
que ninguém reclamou até agora, não há com que nos preocuparmos”. Dos que disseram se preocupam com
essa questão de 11 estabelecimentos, 6 deles mencionaram que se preocupam, pois
“é importante para o negócio”. Outro entrevistado relata que “quando o usuário
sai satisfeito ele sempre volta”. Já outro justifica “pois o foco é receber a
todos além de oferecer o bem estar”. Conforme evidenciou-se na teoria aqui
exposta, essa preocupação em permitir que todos usufruam de todos os serviços
prestados pelo estabelecimento deve ser constante, pois Devile (2009) reconhece que todos estabelecimentos deviam se adequar a
acessibilidade, proporcionando serviços e atividades orientadas para os gostos
e preferências de pessoas que tenham limitações.
Quanto à existência de profissionais
qualificados para o bom atendimento no estabelecimento, todos declararam que
não possuem, o que gera um entrave a promoção e desenvolvimento do turismo
rural na região, mas não a impossibilidade de oferecer um ambiente hospitaleiro
e aconchegante aos turistas. No entanto é necessário que hajam esses
profissionais, uma vez que existem estabelecimentos com até 60 funcionários e
que recebem entorno de até 200 pessoas a depender do dia, o que exige atenção
especial no tocante a questão do atendimento.
7.
Conclusão
Inicialmente, é necessário enfatizar
que promover a acessibilidade é permitir que todos tenham acesso a variados
serviços, de maneira plena e indiscriminadamente. Tendo essa afirmação como
fundamento, abordou-se inicialmente temas que pudessem corroborar essa
afirmação, a saber: a hospitalidade e o turismo acessível.
Tendo em vista que o assunto
proposto é uma contribuição à temática referente ao turismo rural, isso torna o
tema peculiar e merecedor de atenção. Além de constatar-se na literatura uma
escassez de discussões que aliem o turismo rural aliada à questão da acessibilidade,
sob a ótica da hospitalidade.
Desta forma, tendo em vista o
caráter exploratório do estudo, a proposta foi mapear na região de Planaltina -
DF estabelecimentos que permitissem a realização de um turismo rural,
analisando os mesmos sob a ótica da acessibilidade. Diante desses aspectos
constatou-se uma preocupação significativa por parte dos estabelecimentos em
oferecer um serviço acessível, no entanto todos os 13 estabelecimentos
demonstraram ser carentes de acessibilidade, pois notou-se inexistência de
aspectos básicos de um ambiente acessível, como por exemplo a falta de barras
de apoio, de cardápios com letras adequadas e banheiros adaptados.
Por outro lado, a pesquisa apontou
que os estabelecimentos investigados apresentam alguns itens voltados para a
acessibilidade, como rampas, estacionamento com vagas para deficientes, portas
e corredores mais largos. Entretanto, tais aspectos estão voltados sobremaneira
para limitação motora e carecem de uma estrutura voltada para os outros tipos de
limitações.
Além disso, as entrevistas e
observações feitas nesses estabelecimentos revelaram os problemas, as
dificuldades e os desafios que a região de Planaltina - DF enfrenta para o
desenvolvimento de um turismo rural acessível. Dentre essas, destaca-se a falta
de informação a respeito das adaptações necessárias, a inexistência de
orientação e conscientização a respeito do tema.
A maioria dos estabelecimentos (11
estabelecimentos) reconhece a importância da acessibilidade, assim como da
hospitalidade, no entanto a dificuldade maior é como implementar essas
adaptações, visto que 6 deles até desejam realizar essas modificações, mas não
sabem como fazê-la de forma apropriada, por onde iniciar e qual limitação dar
mais atenção. Por outro lado, a pesquisa apontou que 5 estabelecimentos não
tiveram interesse no assunto, alegando a falta de demanda e por achar que o
estabelecimento estava adaptado já que não havia reclamação nesse sentido.
Verificou-se que há um ambiente propício para
que haja acessibilidade no turismo rural na região de Planaltina-DF, mas para
que isso ocorra é necessário orientação sobre como adaptar os estabelecimentos
e como essas adaptações vão influenciar no atendimento ao público, além de
contribuir para o alcance e aprimoramento da hospitalidade.
Tendo em vista a natureza de cada
segmento do turismo rural em Planaltina DF, tais quais: hotel, restaurantes,
pesque pague, clube e pousadas, constatou-se que os mais propensos a adaptar
são os hotéis, conforme apontado nos depoimentos obtidos. Isso pode ser
justificado pela diversidade de serviços que oferecem, o que força o
proprietário a realizar adaptações a fim de manter todos no recinto
confortáveis quanto a acomodação, lazer e alimentação. Este leque de serviço
que os hotéis fornecem fazem com que, caso um turista se sinta insatisfeito com
um dos serviços, pode não retornar ao estabelecimento, prejudicando assim o
setor e até a demanda para esta região.
Portanto, há ainda um enorme passo a
ser dado em Planaltina DF quanto a acessibilidade no turismo rural, para que
esses estabelecimentos possam receber todas as pessoas com deficiência de forma
adequada e com a hospitalidade que necessitam, mas para isso é necessário
auxílio e iniciativas governamentais, que possam estabelecer orientações para
esses estabelecimentos quanto as normas de acessibilidade no Brasil.
Recomenda-se que os estabelecimentos divulguem as adaptações realizadas nos
seus diversos veículos e que procurem auxílio e orientações para possíveis
adaptações futuras no seu espaço.
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Artigo recebido em: 10/01/2018
Avaliado em: 35/04/2018
Aprovado em: 15/05/2018
[1] Possui doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de
Santa Catarina. Atualmente é Professora Adjunta da Universidade de Brasília.
E-mail: donaria@unb.br
[2] Graduando em Gestão do Agronegócio pela Universidade de Brasília (UnB). E-mail: gleitonalvesdeoliveira@hotmail.com